quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

"Reinações de Narizinho", eterno ícone da Literatura Infantil Brasileira, por Vera Regina Pinto Mendes

Monteiro Lobato escreveu mais da metade de seus livros para o público infantil, foi quem transformou o livro num elemento de diálogo entre a criança e o adulto,percebe-se assim a paixão que tinha pelas crianças.
Em Reinações de Narizinho sua mais importante obra no gênero infantil Monteiro Lobato faz uso de uma linguagem simples onde realidade e fantasias estão lado a lado com habilidade única de quem é excelência no assunto.
Assim vai tramando uma série infinita de cenas e aventuras em Reinações de Narizinho tendo como protagonista Lúcia,a menina do narizinho arrebitado ou Narizinho como todos dizem.
“Numa casinha branca, lá no Sitio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos chama-se Dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz segue seu caminho pensando: -Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto” (pág 7).
Esse início da obra é um convite ao leitor que o narrador faz brilhante, que se por lá passássemos também pensaríamos dessa maneira.
Mas como ele mesmo fala, engana-se. “Dona Benta é a mais feliz das vovós porque vive em companhia da mais encantadora das netas” (pág 7).
Lucia, uma menina de sete anos, morena como jambo, gosta de pipoca e já sabe fazer bolinhos de polvilho bem gostosos.
O narrador nos apresenta a personagem Narizinho de uma forma envolvente, faz uso de palavras simples, comuns para a época que foi escrita, e assim, aos poucos vamos entrando na história.
“Na casa ainda existem duas pessoas Tia Nastácia e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo, mas mesmo assim Narizinho gosta muito dela” (pág 7).
Percebemos que o narrador se refere à boneca como pessoa, é essa linguagem encantadora que os personagens vão sendo criados de uma forma real e fantasiosa ao mesmo tempo.
“Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas, muito apressadinhas e mexeriqueiras, correm por entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as tias Nastácia do rio” (pág 7).
A natureza está muito presente na obra, mais uma característica de Monteiro Lobato, que foi pioneiro na luta pela preservação de nossas florestas, de nossos índios e de nossos bichos.
Voltando á Reinações de Narizinho:
“Lúcia sentiu os olhos pesados de sono, deitou-se na grama com a boneca e ficou seguindo as nuvens que passavam pelo céu, formando ora castelos ora camelos. E já ia dormindo, embalada pelo mexerico das águas, quando sentiu cócegas no rosto. Arregalou os olhos; um peixinho vestido de gente estava de pé na ponta do seu nariz”.(pág 8)
Nesta passagem da obra percebemos que o narrador faz uso dos pequenos detalhes, a delicadeza, o mundo fantástico do qual a criança faz parte, e percebemos a semelhança com personagens de outras obras, como o que ocorre com a personagem Alice no País Das Maravilhas, de Lewis Carrol, que entediada, mergulha num mundo de fantasias e vive mil aventuras.
A partir de agora começamos a entrar neste mundo e vamos conhecer os outros bichos falantes, a começar pelo Mestre Cascudo, Príncipe Escamado Rei do Reino das Águas Claras, Doutor Caramujo que da a Emília uma pílula falante e a deixa falar até pelos cotovelos, Dona Baratinha com suas histórias já emboroladas, Dona Aranha a melhor costureira do reino, Rabicó um leitão muito guloso e Visconde de Sabugosa este feito pelo primo de Narizinho o Pedrinho que veio passar as férias no Sitio do Pica-pau Amarelo.
O realismo é impressionante, começamos a entrar na história e perceber que os personagens usam um linguajar que reflete os termos usados pelas crianças, o que facilita a identificação com esse público. Vamos falar de Emília, que após tomar a pílula falante falou por três horas sem tomar fôlego:
“Emília é de um gênio teimoso como ela só” (pág 21), assim o narrador nos apresenta a essa personagem e percebemos que a boneca não gosta de ser contrariada, fala errado ainda algumas palavras, afinal faz pouco tempo que começou a falar, é muito curiosa, gosta de ouvir histórias infantis no colo.
Fazendo um olhar histórico sobre a literatura Infantil, percebemos que o mundo da Literatura Infantil é mágico.
As palavras têm o poder de nos envolver e transportar para um lugar que não é só imaginário, mas também real.
Real porque se pode viver, imaginar, sentir, aprender, sonhar. Porém esse entendimento nem sempre foi assim, pois quando surgiu a Literatura Infantil e a escola, a ideologia que ambos possuíam era controlar os desenvolvimentos intelectuais da criança, manipulando suas idéias e sentimentos.
Monteiro Lobato foi pioneiro em dar voz à criança, é através da personagem Emília que identificamos as características pertinente desse público e o porquê de sua obra ser tão atual ainda hoje.
É através de seus personagens que se instaura um novo espaço e tempo, levando-se em consideração a época em que a mídia mais poderosa era o rádio, e não voltada ao público infantil, não existia televisão e eram poucas as opções de lazer.
Reinações de Narizinho mesmo sendo um livro com capítulos extensos, poucas ilustrações, continua sendo referência dessa nova idéia de Literatura Infantil, podemos dizer que é o eterno ícone da literatura infantil brasileira.
Cabe a nós, professores, sermos criativos e levar aos alunos a conhecer esse mundo imaginário que Monteiro Lobato ilustra em Reinações de Narizinho.



Bibliografia
Lobato Monteiro,Reinações de Narizinho
http://www.monteirolobato.tur.br/jbml.htm
acessado em 05/12/07.

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