segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"AMOR DE PERDIÇÃO", por César Carvalho Ambrosio


Amor de perdição é uma obra do ultra-romantismo português, esse movimento é a segunda fase do romantismo português. É muito semelhante ao “romantismo tradicional”, porém, é um pouco mais exagerado, com maiores conflitos e mais “catastrófico”. Esse livro é uma espécie de transição entre romantismo e realismo. Estamos no final do romantismo, na fase ultra-romântica e já temos indícios de realismo na obra.

A obra é basicamente ultra-romântica, devido ao amor levado ao extremo por Teresa e Simão e também por Mariana. Porém, em partes como a que fala de pessoas que bebem no convento, que riras fazem coisas que não dizem respeito à religião, sendo, muitas vezes, imorais...Fatos como esse denunciam a hipocrisia da sociedade da época – assim como fazia “Machado de Assis” - e isso é puro realismo. Apesar de Castelo Branco não ser um simpatizante do realismo (pois achava as obras desse movimento imorais e gostava de escrever livros que uma família pudesse ler junta, sem maiores problemas) escrevia em algumas horas de forma realista.

A primeira fase do movimento romântico é voltada, em muitas obras, ao nacionalismo, como em Iracema, sendo que o ultra-romântico busca mais trabalhar com os personagens em relação aos seus sentimentos, com os extremos que o amor pode alcançar, ou seja, até que ponto os sentimentos do homem podem guiar sua existência.

Na obra “Amor de Perdição” podemos fazer análise de alguns personagens e de algumas contextualizações:

Simão Botelho:
Simão é um personagem histórico - assim como Martin em Iracema, de José de Alencar – é baseado em um personagem real. O Simão real era um bagunceiro de Coimbra, que em 1807 foi degredado para Índia. O Simão de “Amor de Perdição” é um eterno apaixonado, um acadêmico alguém que não aceita as imposições do pai. Simão é um personagem típico do ultra-romantismo,
Aquela que leva o amor ao extremo, que encara a morte ou qualquer outra vicissitude por amor, é um herói romântico. Compara-se com Martin de Iracema, por ser um herói na obra, porém, seu amor é maior que o de Martin, pois Martin amava Iracema, mas, em alguns momentos, parecia não ter certeza do seu amor. Creio que ela não iria até a morte assim como Simão, que ao saber que Teresa morreu, adoeceu e morreu em poucos dias. Simão é defensor de idéias liberais, tem nobreza de caráter, é um burguês, é orgulhoso e vai ao extremo por um amor, mesmo quando este mostra-se impossível.

Teresa de Albuquerque:
Teresa de Albuquerque assemelha-se muito à Iracema de José de Alencar. A diferença é que o amor entre Teresa e Simão é mútuo. Ela também como uma personagem principal, assim como Simão é ultra-romântica. Vai ao extremo por amor, é capaz de chegar a te a morte, assim como Iracema que ama Martin incondicionalmente. Teresa, assim como Iracema, também briga com seu pai por amor, só que m Iracema a “briga” serve para concretizar o amor e em Amor de Perdição, não. Enclausurada num convento, ela sempre acredita que encontrará seu amor, Simão. Reflete muita fé e injustiças cometidas em nome da fé na época; só desacredita de seu amor no momento em que o próprio Simão lhe diz que somente após a morte poderão se encontrar. Desacredita que se encontrarão nessa vida, mas ainda crê que se encontrarão após a morte. Jamais desiste de seu amor, é uma eterna apaixonada. Na história ela é uma burguesa.

Mariana:
É a personagem mais sofredora do romance, Teresa e Simão ao menos um dia acreditam que irão se encontrar e ela apenas amam, mesmo sabendo que Simão ama outra mulher. Sofre muito por não ter o amor de Simão, é um símbolo de amor platônico, ama e nem ao menos se declara, e ate ajuda Simão na busca de sua amada, sendo que isso é algo que o faria feliz. É um símbolo de renúncia. É abnegada e fiel, é uma mulher mais velha - tem 24 anos - jamais diz uma palavra de ciúme, controla-se friamente. Tem um rosto bonito, lindos olhos azuis, um rosto belo e triste. É filha de um ferreiro, foi criada no campo, vem de uma classe social mais pobre. Sabe que não pode se aproximar de Simão, seja pela sua classe social mais baixa, ou por que Simão ama somente Teresa, mas prefere a morte a estar longe de Simão. forma o triangula amoroso (Simão,Teresa , Mariana) , assim como em Iracema (Martin, Iracema, Irapuã ou Martin, Iracema e a pretendente da Europa). É uma personagem romântica, por que é uma personagem com muitos conflitos não resolvidos e sofre muito também.



Domingos José Corrêa Botelho:
Homem muito autoritário, egoísta, flautista, pai de Simão e Manuel. Era corregedor em Viseu, sendo influente poderoso. Tinha uma frieza incalculável, quando, o seu filho iria ser condenado à forca, ele iria permitir, no permitiu por honra própria, porque sujaria o nome da família e porque um parente seu, que era bem mais velho, o exigiu. não demonstrou em momento algum ter sentimentos de um homem piedoso. Fazia questão que seu filho estivesse preso ou morto porque, então, não se casaria com Teresa, que era inimiga da família. Aparece na estória para ser parte do conflito também ( típico do romantismo), pois não quer ajudar seu filho, sua crueldade mexe com a emoção dos leitores.

D.Rita Botelho:
Esposa de Domingos Botelho era uma mulher submissa, sem voz ativa. mesmo ao ver que seu filho estava à beira da morte, não podia fazer nada se seu marido não decidisse; quando queria ajudar Simão, tinha que ser escondido. Era submissa, sendo um modelo das mulheres da época em relação à submissão.

João da Cruz:
João da Cruz, ferreiro , homem de baixa classe social , pai de Mariana , reflete o amigo fiel . É fiel até o fim por Simão. Ele tem grande importância, pois é o personagem que protege o herói, no início porta-se assim devido ao favor que o pai de Simão fez ao livrá-lo da forca, depois realmente torna-se amigo de Simão. Aproxima-se de Poti ,de Iracema , o amigo fiel de Martin , que também seria fiel a Martin até à morte se fosse preciso.

Baltazar Coutinho:
É um burguês guiado por interesses, é primo de Teresa, um rapaz sem moral e sem caráter. Pode-se dizer que quer casar com Teresa um pouco para manter seu orgulho mesmo, não a ama. pode recorrer a qualquer coisa para vencer Simão. Os dois “lutam” para vencer, porém, Simão tem sentimentos nobres e Baltazar não. Faz o papel de Irapuã de “Iracema”, só que tem motivos e caráter diferente. Irapuã luta por motivos nobres, para defender a sua tradição e por amor de Iracema, enquanto que Baltazar luta por motivos próprios e que são vis. Faz parte do triângulo amoroso da obra, e, por isso, faz parte do conflito da obra.



Tadeu Albuquerque:
É pai de Teresa, muito autoritário, quer a todo custo decidir a vida de Teresa, que decidir seu destino, porém moça não aceita sua ordem de casar-se com seu primo, o que revolta muito seu pai. Tem rivalidade com a família de Simão, esse é o grande motivo que faz o pai lutar para que não fiquem juntos. É um dos grandes impedidores do amor entre os dois, gerando grande conflito. É burguês e retrata o modelo de pai de família da época.

Manuel Botelho:
Manuel, é o jovem irmão de Simão. No início, critica o irmão pelo tipo de vida que ele levava, depois, envolve-se com uma mulher casada e vai morar com Simão em Coimbra, depois arrepende-se, porque é dependente de seus pais e pede ajuda aos mesmos para devolver a mulher casada com que havia fugido. Não se fala muito nele na obra, mas nota-se que é um “cabeça- fraca”, um tipo imaturo.

Ritinha:
Irmã de Simão, personagem secundária , também não tinha voz ativa, retrata um pouco também da mulher da época. Demonstra-se piedosa ao se importar com Simão quando sabe que ela esta na cadeia e por que quer ajudá-lo.

Prioresa e Padre Capelão:
São personagens hipócritas, falsos, imorais, beberrões, que escondem-se atrás da religião. Tem função também de retratar certos padres e freiras que se portavam assim em alguns conventos em que tudo ficava escondido (relacionam-se com uma visão realista).

Joaquina:
Aparece na estória para ajudar os amantes, é amiga de Mariana. É noviça, vive no convento, porém ainda não está “contaminada” pelas imoralidades de pessoas do convento tem bom caráter.

Mendiga:
Serve de “pombo-correio” dos amantes, tem um bom coração, pois os ajuda.

Castelo Branco, muitas vezes, baseava-se e personagens reais para que os leitores pudessem acreditar mais no que liam e para tornar mais fortes as emoções de quem lia suas obras. Esquematiza suas obras de forma que cada personagem que apareça na estória tenha uma função, aparecendo mais ou menos tempo na estória. Procura, em “Amor de Perdição”, levar os personagens ao extremo de seus sentimentos e, muitas vezes, o leitor também cria uma tensão ao ler o livro, pois a apelação ao sentimento dos personagens é muito forte e não se sabe ao certo o que vai acontecer no final. Isso é algo que ele faz com maestria. Seus personagens refletem o lado “romântico” porque não deixam-se guiar pela razão e, sim, por suas emoções. A emoção sempre se sobrepõe à razão e, com muito exagero, por ser ultra-romântico.

Em suma, “Camilo” é um autêntico ultra-romântico e, com certeza, ainda que o leitor não acredite no que lê, ele, em sua obra, consegue mexer com os sentimentos do leitor






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS:

CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição, SÃO PAULO: Riddel, 2002.
NICOLA, José de. Introdução e comentários. In:BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição. SÃO PAULO: Scipione, 1994.
http://www.portrasdasletras.com.br/

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