quarta-feira, 29 de outubro de 2008

HARRY POTTER, UM CONTO DE FADAS CONTEMPORÂNEO?

HARRY POTTER, UM CONTO DE FADAS CONTEMPORÂNEO?

Paulo Ricardo Bandeira Christofoli


Ao lermos o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, nos defrontamos com algumas perguntas. O livro é bom? Essa literatura é adequada ao público infanto-juvenil? A obra atende às premissas básicas para essa literatura? O sucesso do livro é somente devido a toda uma estratégia da mídia? Por que milhões de crianças, jovens e até adultos tornaram-se adeptos fervorosos das aventuras do jovem bruxo?

Embora seja um mundo ficcional, existem vários fatores político-sociais inseridos na obra. A autora, apesar de ser britânica, acabou vivendo sua adolescência num mundo marcado por ditaduras capitalistas e socialistas, onde os que se opunham ao sistema eram perseguidos. As mortes causadas por [1]Voldemort fazem uma analogia à situação mundial onde a autora cresceu.

Ao analisarmos a estrutura dos livros de J. K. Rowling, sobre a saga de Harry Potter, verificamos inicialmente que eles não atendem a todas as características de uma literatura infanto-juvenil.

Conforme Regina Zilbermann, no capítulo “A traição ao leitor”, de seu livro “A literatura infantil na escola”, a obra deveria valer-se de parágrafos curtos, sintaxe adequada, uso de ilustrações, tamanho do livro. O que vemos em Harry Potter e a Pedra Filosofal é exatamente uma antítese de algumas dessas características. Os parágrafos são longos, o livro possuí 263 páginas sem nenhuma ilustração:

Uma brisa arrepiou as cercas bem cuidadas da rua dos Alfeneiros, silenciosas e quietas sob o negror do céu, o último lugar do mundo em que alguém esperaria que acontecessem coisas espantosas. Harry Potter virou-se dentro dos cobertores sem acordar. Sua mãozinha agarrou a carta ao lado mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões do primo Duda ... ele não podia saber que, neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo país que erguiam copos e diziam com vozes abafadas:
- A Harry Potter: o menino que sobreviveu! (ROWLING, 2000, p.20)

Como vemos no parágrafo acima a autora utiliza-se de nexos coordenativos e subordinativos, diferentemente da linguagem utilizada, por exemplo, na obra “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, que muitas vezes, nesta, utiliza orações justapostas como no exemplo abaixo:

A bolsa por dentro:
Abri devagarzinho. Com um medo danado de ser tudo vazio. Espiei. Nem acreditei. Espiei melhor ( BOJUNGA, 1997, p.27).

Essas orações justapostas aproximam-se mais da oralidade e escrita da criança. A linguagem do livro A Bolsa Amarela, inclusive, é uma das características mais marcantes.

Mas apesar de utilizar parágrafos longos, a linguagem utilizada em Harry Potter é coloquial, lúdica, com uma sucessão de acontecimentos fantásticos criando um ritmo acelerado na narrativa tão presentes no cotidiano atual das crianças e jovens do nosso tempo.

A obra Harry Potter sofre inúmeras críticas com relação ao seu conteúdo, no qual é apontado, por alguns analistas e escritores, como sendo uma cópia de estruturas já muito utilizadas, repleta de clichês e sem profundidade, uma obra rasa. Harold Blomm, crítico americano, tratá-a como sendo “... infindável seqüência de clichês... É apenas ficção barata” (apud JACOBY, 2000).

Marina Colasanti (apud JACOBY, 2000) critica a questão da mídia e das estratégias agressivas de marketing utilizadas para divulgação da obra como está sendo encomendada.

Ana Maria Machado (apud JACOBY, 2000) fala da pouca originalidade da obra que retoma elementos batidos na tradição da literatura infanto-juvenil.

Na verdade, após a exposição de alguns pontos de vista de renomados escritores criticando a obra, levantamos a seguinte questão: Harry Potter é somente isso?

Seria possível que milhões de leitores espalhados pelo mundo, das mais variadas faixas etárias fossem contagiados pela exposição da mídia no processo de globalização dos bens de consumo? Seria possível que algo tão ruim fizesse com que crianças lessem 263 páginas no primeiro livro e após outras milhares contidas na seqüência dos outros seis volumes?

Ana Maria Machado, ao mesmo tempo em que critica a falta de originalidade da obra, também diz:

[...] é inegável que a série Harry Potter é bem construída, dosa bem [...] os clichês todos, tem ótimo ritmo e é muito gostosa de ler, mesmo sendo previsível aqui e ali. Ou seja, é divertimento de primeira qualidade (MACHADO, 2001, p. 219).

Outros críticos saíram em defesa da obra. No livro [2]Além da Plataforma Nove e Meia, Isabelle Smadja, estudiosa francesa, afirma:

[...] constitui em um conto de fadas moderno, capaz de atualizar com competência sua função simbólica, já há muito tempo apontada por psicólogos (especialmente por Bruno Bettelheim) como das mais benéficas na formação das crianças, ao auxiliá-las a elaborar as suas mais diferentes emoções e a fortalecer sua identidade (JACOBY e RETTENMAIER, 2005, p.30).

Já Pedro Bandeira (apud JACOBY, 2000), escritor de literatura infanto-juvenil brasileira, afirma que a autora J. K. Rowling possui um profundo conhecimento da psicologia das crianças.

Entre os prós e os contras, afinal, o que teria nessa obra atraído com grande eloqüência crianças e jovens no mundo inteiro?
Passaremos a falar agora do assunto abordado na obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, que em nosso entendimento está internalizado no imaginário infantil e por isso, seja talvez, o ponto vital para o seu sucesso.

A história se desenvolve sob a perspectiva de um herói infantil, ou seja, as personagens principais são crianças que vão descobrindo suas identidades durante o transcorrer do enredo. As ações são praticadas pelas crianças deixando para os adultos o papel secundário de auxiliá-las, porém, enxergando nelas seu potencial.

A narrativa do texto é feita através do olhar da criança sendo esse um dos fatores positivos para que não ocorra a traição ao leitor uma vez que está dentro da realidade e anseios do leitor.

Analisando a obra na ótica dos elementos constantes no conto de fadas observamos que a mesma traça um roteiro bem elaborado, fazendo um resgate do gênero.

A onipresença da metamorfose se dá não somente na transformação dos personagens, que passam do estágio da pré-adolescência para a adolescência no decorrer das obras, mas também em outros elementos da narrativa, tais como, paredes que viram passagens, animais que se transformam em pessoas e etc.

O uso de talismãs está presente em toda a obra para auxiliar as personagens principais a resolverem mistérios, abrirem novos caminhos. Harry por exemplo utiliza-se de uma capa que lhe dá a invisibilidade. Em O Prisioneiro de Azkaban, terceiro livro da série, Hermione utiliza um objeto chamado vira-tempo, que possibilita retornar no tempo auxiliando na resolução dos mais variados problemas.

A força do destino é uma constante na vida do pequeno bruxo. Desde o início da obra fica claro que Harry Potter tem um destino delineado, não por completo, pois são suas ações que dão à tônica e a dinâmica na narrativa. A própria marca na testa do herói já identifica que ele tem um destino a cumprir. A passagem abaixo, dita pela professora Minerva referindo-se a Harry Potter, do capítulo um do primeiro livro, serve de ilustração:

Essas pessoas jamais vão entendê-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele! (ROWLING, 2000, p. 17).

O desafio do mistério ou do interdito é uma das abordagens principais presentes em todas as sete obras da escritora. Alguns mistérios vão passando de livro para livro fazendo com que o leitor fique na expectativa de qual solução será dada para determinada situação.

Através da magia os personagens vão ultrapassando as dificuldades que lhes são impostas. Tal qual nos contos de fadas, o leitor infanto-juvenil vai se identificando com o texto e trazendo-o para sua realidade na tentativa de encontrar soluções para seus problemas e ansiedades.

Bettelheim, em seu livro “A psicanálise dos contos de fada”, diz que nas horas difíceis, jovens leitores podem encontrar conforto como os heróis das histórias:

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana, mas que se a pessoa não se intimida e se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa (BETTELHEIM, 2002).

Os vilões nas histórias infantis matam, lutam e ferem. Em Harry Potter isso também ocorre, porém, um novo tipo de vilão nos é apresentado, os Dementadores (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban). Eles são capazes de causar uma profunda tristeza fazendo que sua vítima chegue na mais profunda depressão, sugando-lhes a energia e suas lembranças boas.

Na série dos livros de Harry Potter vários elementos e passagens constantes nos contos de fadas são apresentados.

No início do primeiro livro, Harry é tratado pelos seus tios, os Dursley, como serviçal da família. Seu quarto fica em baixo da escada e o menino recebe os restos de seu primo Duda. Aqui traçamos uma analogia ao conto “Borralheira”, de Charles Perrault. Esse tratamento utilizado tanto em Harry Potter quanto em Borralheira, relatam muito bem as experiências internas da criança pequena nos espasmos da rivalidade fraterna, quando ela se sente desesperadamente marginalizada pelos irmãos e irmãs ( no caso de Harry, pelo primo Duda). A madrasta sacrifica os interesses de Borralheira em favor dos das irmãs; deve executar os trabalhos mais sujos e mesmo fazendo-os bem, não é aceita por elas. Os tios de Harry assumem o mesmo papel da madrasta.

Em outro momento do livro, o pequeno bruxo pára diante de um espelho que reflete os seus desejos mais profundos. Na obra Branca de Neve, a rainha utiliza-se de um espelho para saber se é a mais bonita do reino. A rainha em Branca de Neve é movida pela vaidade, repetindo o tema antigo de Narciso. No caso de Harry Potter, sua motivação é de recuperar o carinho e a presença de seus pais. Em ambos os casos o espelho é usado como fonte para refletir e encontrar suas aspirações.

Assim como Narciso, que só amava a si mesmo, de tal forma que foi tragado pelo auto-amor, o espelho de [3]Ojesed tem o poder sobre Harry Potter de fazer o personagem penetrar no mundo da imaginação esquecendo do mundo que o cerca. O personagem, assim como Narciso, certamente definharia em frente ao espelho maravilhado pela sensação de prazer que o reflexo lhe trazia, mas no caso do livro a autora deu outra solução fazendo com que Alvo Dumbledore o trouxesse novamente para realidade.

O espelho vai ser levado para uma nova casa amanhã, Harry, e peço que você não volte a procurá-lo. Se algum dia o encontrar, estará preparado. Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver, lembre-se (ROWLING, 2000, p. 184).

A plataforma nove e meia, que não pode ser vista pelos trouxas (conforme definição do livro, trouxas significa quem não é bruxo), conduz para a estação do trem que leva os alunos para Hogwarts (a escola dos bruxos). Seria uma passagem para outra dimensão, assim como em [4]Peter Pan e sua Terra do Nunca.

Em Hogwarts, assim como na Terra do Nunca, Harry encontra o seu lugar, sua verdadeira casa, iniciando assim a busca pela sua identidade. Ao chegar em Hogwarts, Harry depara-se com outro mundo, onde todos são bruxos e todos têm conhecimento da cultura desse meio. Harry, porém, continua a sentir-se deslocado, uma vez que foi criado por uma família “normal”. Essa busca pelo seu conhecimento atravessa a história na narrativa. O primeiro sinal de encontro consigo mesmo é dado quando o personagem aprende a voar na vassoura.

[...] Ele montou a vassoura, deu um impulso com força e subiu, subiu alto, o ar passou veloz pelo seu cabelo e suas vestes se agitaram com força para trás – e numa onda de feroz alegria ele percebeu que encontrará alguma coisa que era capaz de fazer sem ninguém lhe ensinar – isto era fácil, era maravilhoso (ROWLING, 2000, p.130).

A pedra filosofal, objeto principal do primeiro livro, é um elemento místico procurado durante anos pelos alquimistas da idade antiga. Esse elemento transformaria qualquer metal em ouro e traria vida eterna para quem o possuísse. Nicolau Flamel, que é citado no livro, como quem teria criado a pedra, foi um alquimista real que viveu no século XII que dedicou suas pesquisas no intuito de desenvolver tal elemento.

No segundo livro da série, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry e a família Weasley utilizam-se de um pó mágico para transportarem-se para outro lugar. A fada Sininho, na obra Peter Pan, também utiliza um pó mágico que tem o poder de fazer as crianças voarem servindo como transporte para a Terra do Nunca.

Na obra de Monteiro Lobato o narrador apresenta o pó de pirlimpimpim numa cena em que o menino invisível, Peninha, convida Pedrinho a partir para o velhíssimo mundo das maravilhas.
Um tema abordado no segundo livro é o da discriminação. Hermione (companheira de Harry) sofre pelo fato de “não ser pura”, uma vez que seus pais não são bruxos.

A presença feminina na obra também é explorada pela autora J. K. Rowling. Vejamos. Uma das melhores amigas de Harry é Hermione, uma menina capaz de ultrapassar as dificuldades através do estudo e dedicação. A mãe de Harry deu sua vida por amor para salvá-lo. A Sra. Weasley, mãe de Rony, amigo inseparável de Harry, vai assumindo no transcorrer das obras o papel de mãe adotiva da personagem. Esse sentimento da Sra Weasley fica evidenciado no livro Harry Potter e a Ordem da Fênix:

- Bom – começou ela, dando um longo suspiro e olhando ao redor à procura de um apoio que não veio – bom... estou vendo que vou perder. Mas vou dizer só uma coisa: Dumbledore deve ter tido suas razões para não querer que Harry soubesse demais, e falando como alguém que quer o melhor para Harry...
- Ele não é seu filho – disse Sirius em voz baixa.
- É como se fosse – respondeu ferozmente (ROWLING, 2003, p 78).

A professora Minerva acredita no potencial do menino e o auxilia a enfrentar as dificuldades impostas pelo caminho. É ela quem indica Harry para participar do time de quadribol, fato este que elevaria a moral do menino.

- Harry Potter, esse é Olívio Wood. Olívio... encontrei um apanhador para você.
A expressão de Olívio mudou de confusão para prazer.
- Está falando sério, professora?
- Seríssimo – resumiu a Profa. Minerva. – O menino tem um talento natural. Nunca vi nada parecido. Foi a primeira vez que montou numa vassoura, Harry? (ROWLING, 2000, p. 132-133).

Essas personagens femininas são de vital importância para formação do caráter e crescimento de Harry Potter.

Outra analogia possível de ser feita da obra Harry Potter é com “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato. A obra de Monteiro Lobato foi um sucesso no Brasil quando do seu lançamento.

Em ambas as obras seus autores deram voz às crianças, utilizando-se de recursos fantásticos para animações de objetos, brinquedos e animais. Aqui vemos mais uma característica descrita por Piaget, o animismo, na qual a visão de mundo que os contos trazem é igual à da criança.

Monteiro Lobato internou em sua obra várias passagens dos contos de fadas e figuras da mitologia. Seus personagens principais são crianças e a figura do adulto apenas acompanha o desenvolvimento da ação como espectadores.

A personagem Tia Anastácia, por exemplo, mesmo sendo adulta, é a que mais se aproxima do mundo infantil, sendo inclusive a detentora do acervo cultural de lendas do passado. Em Harry Potter, o personagem Hagrid, um gigante adulto que tem atitudes e ações infantis, é o que mais se aproxima dos protagonistas da história. Assim como Tia Anastácia, Hagrid também é o responsável por repassar as histórias antigas.

A escritora J. K. Rowling, na narrativa dos livros, utilizou-se de diversas mitologias, dentre elas a grega, romana, egípcia e nórdica.

O professor Dumbledore, possuí um animal muito raro, uma Fênix. Com origem na mitologia egípcia, essa criatura tinha a particularidade de se destruir no fogo e renascer das suas próprias cinzas. Esse animal aparece no segundo livro, Harry Potter e a Câmara Secreta.

O nome do professor Remus Lupin, professor de defesa contra as artes das trevas no terceiro livro, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, está associado à lenda da mitologia romana de Romulus and Remus (Rômulo e Remo), os dois gêmeos que foram amamentados por uma loba até serem encontrados por um casal de lavradores. Este nome também está relacionado com o fato do personagem se transformar em lobisomem.

Os Centauros da floresta proibida (já aparecem no primeiro livro Harry Potter e a Pedra Filosofal), são associados à mitologia grega. O centauro também simboliza o conflito humano entre a razão e o instinto animal.
O nome da professora Minerva, vem da mitologia grega ou romana que quer dizer também Atena (filha de Zeus), a deusa das artes e dos ofícios, que ensina aos comuns mortais. Minerva era uma deusa que primava pela perfeição sendo uma das características da personagem na obra.

A figura do cão de três cabeças de Hagrid, também vem da mitologia grega ou romana e além de três cabeças tinha muitas caudas e tinha a função de proteger a entrada do mundo inferior de todos os intrusos do mundo superior. Na obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, o cão de três cabeças tem a função de guardar o alçapão onde a pedra filosofal está escondida.

O nome Hermione quer dizer eloqüência, inspirado na mitologia grega. Hermione era filha de Helena de Tróia. Na obra, Hermione é amiga de Harry e de Rony e é muito aplicada nos estudos.

Também nos nomes dos feitiços utilizados pelos bruxos a autora utilizou-se de elementos da mitologia.

O feitiço Aparecium vem do latim e tem a função de tornar visíveis objetos, tinta ou pessoas; na mitologia era algo relacionado com as boas colheitas, as pessoas rezavam aos deuses e diziam Aparecium para que os deuses lhe concedessem boas colheitas.

O feitiço Colloportus vem do latim e tem a função de trancar as fechaduras de portas ou de arcas e era mencionado em episódios do cotidiano da mitologia grega, quando os patrões/pais pediam aos seus criados/filhos para fecharem a porta de uma casa.

O termo animagus que vem do latim e designa o dom de um feiticeiro de se transformar em animal. Sirius Black, em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, transformava-se em um cão preto. Na mitologia grega ou romana simbolizava os humanos que eram transformados em animais pelos deuses. Tinham alma de humanos e corpo de animais.
A identificação dos leitores com a série Harry Potter está vinculada a vários elementos utilizados pela autora em sua obra.

Inicialmente, o fato da personagem principal ser órfã, está fortemente ligado a cultura contemporânea da criança ser criada em frente à televisões, por babás, sem a presença constante dos país.

O fato de Harry ser uma criança frágil e deslocada, mas apesar disso enfrentar e vencer os obstáculos que lhe são apresentados é outro fator de identificação do leitor.

A ação toda ocorre em uma escola, onde crianças e adolescentes passam a maior parte do seu tempo sendo também outro fator importante. As situações que ocorrem nessa escola estão diretamente relacionadas com a realidade que a criança e o adolescente contemporâneo vivem. Formação de grupos, os bons e os maus, disputas, indisciplina e finalmente a relação entre meninos e meninas marcantes na pré-adolescência. A passagem abaixo do livro Harry Potter e o Cálice de Fogo, quarto livro da série, quando os alunos estavam se preparando para o baile de inverno, serve como ilustração dessas relações:

Uma terceiranista da Lufa-Lufa, de cabelos crespos, com quem Harry jamais falara na vida, convidou-o para ir ao baile com ela, logo no dia seguinte. Ele ficou tão surpreso que respondeu “não” antes mesmo de parar para refletir sobre o convite. A garota se afastou parecendo bem magoada, e Harry teve que aturar as piadas de Dino, Simas e Rony sobre ela durante toda a aula de História da Magia. No dia seguinte, mais duas garotas o convidaram, uma do segundo ano e (para seu horror) uma do quinto ano, que parecia ser capaz de nocauteá-lo se ele recusasse (Rowling, 2001, p. 309).

Finalmente, o elemento mágico desperta no leitor a sua imaginação, provocando sentimentos comuns, tais como, raiva, medo, escolha entre o bem e o mal do certo e o errado.

A intenção desse ensaio não foi de fazer comparações entre obras consagradas da literatura infantil e infanto-juvenil de autores como Hans Christian Andersen, Charles Perrault, Monteiro Lobato, mas sim de demonstrar a importância da obra de J.K. Rowling no cenário atual da literatura.
Afinal, Harry Potter é um conto de fadas contemporâneo?
Talvez somente o tempo poderá responder a essa pergunta.



























[1] Voldemort é o bruxo que matou os pais de Harry Potter, mas acabou sendo vencido por ele quando ainda bebe. Durante toda a saga estará presente e será o pivô da luta entre o bem e o mal.
[2] Além da Plataforma Nove e Meia: Pensando o fenômeno Harry Potter. Organizadores: Sissa Jacoby e Miguel Rettenmaier.
[3] O espelho de Ojesed aparece em dois momentos na obra Harry Potter e a Pedra Filosofal. Em um primeiro momento ele atrai Harry refletindo lembranças dos seus pais; no final da obra, quando Harry enfrenta Voldemort na disputa pela posse da pedra filosofal, ajuda o pequeno bruxo na solução do problema.
[4] Peter Pan foi um personagem criado por J. M. Barrie e apareceu pela primeira vez ao mundo em 1902, num livro intitulado The Little Bird.

Nenhum comentário: