segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O CORTIÇO

O CORTIÇO
Natália Alberici Arrais

Aluísio Azevedo, influenciado por Émile Zola, o pioneiro da escola literária naturalista, que considerava que o homem era produto do meio, da raça e do momento histórico, segue o estilo naturalista, retratando de maneira objetiva as características das personagens, desnudando as mazelas humanas e sociais.
Assumindo uma perspectiva do alto, Aluísio faz descrições precisas das personagens d’o Cortiço, fazendo deste uma personagem, que algumas vezes ganha vida, como no trecho: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas” (AZEVEDO, ALUÍSIO, 1890, p. 28).
Partindo da visão determinista, onde as pessoas são influenciadas pelo meio em que vivem, Aluísio dá características ao cortiço que determinam o comportamento dos indivíduos que ali vivem.
Uma personagem que foge a esse molde é João Romão, um português que explorava os moradores e uma escrava, a quem enganou com uma falsa carta de alforria. Sempre muito ambicioso, deixava de comer para guardar dinheiro. Seu objetivo era acumular e lucrar para enriquecer.
Quando teve oportunidade, engana Bertoleza, sua amiga, escrava que possuía uma quitanda. João Romão forja uma carta de alforria, oferecendo uma proposta à Bertoleza de viver com ele, se este cuidasse de seu dinheiro. Para Bertoleza era de grande valia viver com ele, pois não precisaria mais pagar vinte mil réis por mês ao seu dono, e aliás, considerava vantajoso submeter-se a alguém de raça superior a dela.
Bertoleza retratava a submissão dos negros da época, pois sentiam-se livres quando trocavam de donos, sem sequer saber o que era liberdade, pois continuavam a ser explorados da mesma forma. O fato de ter um dono de raça superior a sua, fazia com que Bertoleza ficasse mais feliz, sentindo grande prazer em trabalhar para João Romão. Enquanto este só se interessava em cuidar do dinheiro dela, pois é a partir dele que irá crescer economicamente.
Com a economia de Bertoleza, João Romão compra um terreno ao lado da venda, que já possuía, e à base de muito trabalho e exploração o cortiço crescia cada vez mais.
João Romão era um exemplo da nova classe que aparecia, que enriquece pelo trabalho e não por heranças, como o tradicional. João Romão não deixou influenciar-se pelo meio em que viveu, este até diferenciava-se e não deixava misturar-se com os moradores de seu cortiço. Ele é uma crítica ao capitalismo, pois é a vontade de enriquecer, não importa de que forma for, explorando outras pessoas.
Estimulado por esta crítica, está Miranda, vizinho do cortiço, dono de um sobrado e casado com Dona Estela. Após flagrar o adultério de sua mulher, Miranda decide não se separar dela, apenas viver em quartos separados, pois foi a partir da esposa que obteve uma vida melhor, por ela possuir dotes de 80 contos em prédios e ações da dívida pública. Além dos dotes, a separação seria um escândalo para família, decidindo acomodar-se em seu quarto individual. A crítica está na atitude de Miranda que mantém o casamento pelo interesse financeiro e para manter as aparências.
Miranda invejava a riqueza que João Romão construiu com o próprio trabalho, mas odiava a vizinhança que tinha, pois eram mulatos, pretos, lavadeiras, malandros, vadios, benzedeiras e assassinos.
Os moradores do cortiço representavam as mais diferentes figuras, porém todas elas tipos comuns, pobres e influenciados pelo meio em que viviam.
Entre essas figuras, quem mais sofreu com a influência do meio foi Jerônimo. Português, muda-se para o cortiço com sua esposa, Piedade, para trabalhar na Pedreira. Jerônimo era homem de caráter sério e de bons costumes trabalhador e honesto, saudosista e muito respeitador para com sua esposa que era muito fiel e submissa ao marido.
Seu caráter e seus costumes passam a se transformar quando vê Rita Baiana dançando. A partir daí, Jerônimo sofre o abrasileiramento, ao contrário de João Romão, degradando sua imagem. Passa a gostar das músicas, das comidas e dos costumes brasileiros. Passar a brigar com sua esposa, falta ao trabalho, bebe muito e a cada dia afeiçoa-se mais por Rita Baiana. Esta descrita como mulata sensual e provacante, característica atribuída à mulher de cor na época, era independente e rebelde, oprimia e seduzia os homens. Criticava o casamento, justificando que esse não era o seu destino, ser submissa a um homem. Rita destacava-se entre as mulheres do cortiço por sua sensualidade e por seus pensamentos, que contrariavam o modelo patriarcal. Suas características sempre destacadas eram sua cor e sua sensualidade. Descrição típica da época que valorizava muito a sexualidade e o corpo da mulher.
Outra mulher que cede à influência do meio é Pombinha. De início, uma “flor do cortiço”. Filha da lavadeira Isabel e noiva de João da Costa, possuía estudo e ajudava os moradores. Ainda não se casava porque sua menstruação ainda não tinha vindo. Menina acanhada e de bom comportamento, conhece Léonie, uma prostituta de alto nível. Sua ascensão social permitia transitar pelas ruas e teatros com seus amantes e, também, regressar ao cortiço para visitar sua afilhada. Léonie convida Pombinha a visitar sua casa, quando principia a sexualidade da menina, transformando os pensamentos desta.
Tempos depois, totalmente transformada e influenciada, Pombinha abandona o marido, junta-se a Léonie tornando-se prostituta, mostrando o quanto foi influenciada pelo meio em que vivia.
A obra apresenta como o meio influenciou grande parte das personagens. A forma como o autor identifica ou descreve as personagens, comparando-as com animais e/ou instintos animalizados, mostra a identificação das pessoas com o cortiço, diminuindo o valor das personagens moradoras do cortiço.
As personagens que não foram influenciadas pelo ambiente do cortiço, estavam do lado de fora deste, representando a sociedade elitizada que queria manter-se distante das pessoas “marginalizadas”, representando, também, o capitalismo, a vontade de crescer economicamente, não importando como, seja explorando o trabalho das pessoas ou roubando dinheiro delas.
O autor retrata o que realmente acontecia, o comportamento e os interesses das pessoas de ambas as classes.
Observamos que o estilo do cortiço e o comportamento das pessoas ainda permanecem atualmente. Favelas e periferias são o retrato ampliado de um cortiço; casas sem estrutura, aglomeradas umas com as outras; pessoas marginalizadas, com comportamentos irracionais; a ambição, a vontade de crescer economicamente, acima de tudo e pessoas estereotipadas, que vivem em razão da aparência.

AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 6 ed. São Paulo: Ática, 1979.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

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Com todas as letras. Análise da obra. Disponível em: . Acesso em 16 jun. 2008.

Dados biográficos de Aluísio Azevedo. Disponível em: . Acesso em 16 jun. 2008.

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